terça-feira, 23 de outubro de 2012

A caminho da nova estrada.

    Era uma noite de sábado. De todos lugares que ela deveria estar naquele momento, ela estava sentada na varanda da casa de sua tia onde deveria passar a noite. De todos os meios de comunicações existentes, ela percebeu que era impossível realmente dizer o que se sentia através deles. A lua parecia querer se esconder  atrás das nuvens para que ela não se lamentasse por contemplar tamanha beleza da natureza sozinha. Eram 23:00 da noite e não havia ninguém em casa. O cofre estava vazio e ela pensativa. Sonhava em fugir dali, talvez pegar um ônibus e ir visitar sua casa de praia. Mas sair andando pelo bairro com seu cachorro foi a unica possibilidade. Seus livros estavam lidos e a comida havia acabado. Ela sentia medo a cada esquina que virava. Seu cachorro não era um dos mais ferozes. Seu telefone toca com a música que ela mais odeia. Lembrou de sentir raiva da amiga que trocara seu toque outra vez. Era o garoto com quem ela vinha trocando cartas havia um mês. Ela aguardava essa ligação, após ele ter pedido seu numero depois do ultimo "ps: deixe a mochila preparada, passo para te buscar um dia.". Ele era tudo que ela via em filmes de comédia romântica e livros de seu autor favorito. Mas ele estava longe, como todos seus antigos amigos agora também estavam. Morava em outro estado. Tinha uma outra vida, e ela nunca sabia ao certo se ele pensava nela. Tratava ele como se fosse mais um amigo que ela tentava manter.
       Sentou-se na calçada em frente sua casa e ignorou o medo de qualquer tipo de violência com uma menina de sua idade aquela hora da noite. Eles conversaram pela primeira vez. A voz dele era suave e grossa, ele a fazia rir. Ela não tinha medo de ser quem era, afinal ele estava a quilômetros de distância. Conversaram sobre a demorar dos correios e o tempo de amizade. Havia se conhecido em uma comunidade de Biologia pela internet. Faziam planos de se aventurar pelo mundo, salvar animais e ele acreditava nos sonhos dela. O desejo do novo nunca morreu, mesmo sendo apunhalado pelos mais próximos. De alguma maneira ela acreditava nele. Conhecia seus limites e sonhava com isso tudo a cada noite que conseguia dormi. Quando ela disse que tinha que desligar ele pediu para ela colocar uma lanterna e meias a mais na mochila. Ela riu. E ele desligou. Aquela noite toda ela ficou acordada pensando em começar a escrever um texto. Ela não conseguiu. Começou milhares e não terminou nenhum.
          O sol apareceu e ela estava com os olhos doendo. Havia passado a noite na rede da varanda da tia. E pela manhã notou que ela havia chegado da festa mais tarde do que pretendia. O telefone tocou. Era ele, pediu que abrisse a portão. Ela não entendeu nada. Ele apenas insistiu. De tênis e óculos escuros ele estava na frente dela. Com um coque no alto da cabeça e a cara amassada ela sorriu como se não acreditasse. Ele disse:- Está pronta? -Ela não entendeu como, mas sabia que não podia mais aguentar as noites de mente vazia e o coração desejando uma emoção, que não, a dúvida. Entrou dentro de casa, e não se importou de deixa-lo esperando no portão. Voltou com uma mochila nas costas, chapéu na cabeça e uma carta que dizia: " Volto amanha a noite. Te amo V. " Deixou a carta da porta da frente.Já haviam combinado em outras cartas que  fantasiavam, que quando ele viesse para o Rio, iriam acampar e ela mostraria a Serra dos Órgãos a ele. Em silencio, só eles sabiam o que aconteceria naquele dia. Ela não iria engravidar e ele não iria bater o carro. Eles tinham planos de vida. Iriam começar a fazer o coração bater, criar  histórias para contar , treinar para realizar seus sonhos. Eles só iriam se apaixonar.

                                                                                              Valentina.

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