Era uma noite de sábado. De todos lugares que ela deveria estar naquele momento, ela estava sentada na varanda da casa de sua tia onde deveria passar a noite. De todos os meios de comunicações existentes, ela percebeu que era impossível realmente dizer o que se sentia através deles. A lua parecia querer se esconder atrás das nuvens para que ela não se lamentasse por contemplar tamanha beleza da natureza sozinha. Eram 23:00 da noite e não havia ninguém em casa. O cofre estava vazio e ela pensativa. Sonhava em fugir dali, talvez pegar um ônibus e ir visitar sua casa de praia. Mas sair andando pelo bairro com seu cachorro foi a unica possibilidade. Seus livros estavam lidos e a comida havia acabado. Ela sentia medo a cada esquina que virava. Seu cachorro não era um dos mais ferozes. Seu telefone toca com a música que ela mais odeia. Lembrou de sentir raiva da amiga que trocara seu toque outra vez. Era o garoto com quem ela vinha trocando cartas havia um mês. Ela aguardava essa ligação, após ele ter pedido seu numero depois do ultimo "ps: deixe a mochila preparada, passo para te buscar um dia.". Ele era tudo que ela via em filmes de comédia romântica e livros de seu autor favorito. Mas ele estava longe, como todos seus antigos amigos agora também estavam. Morava em outro estado. Tinha uma outra vida, e ela nunca sabia ao certo se ele pensava nela. Tratava ele como se fosse mais um amigo que ela tentava manter.
Sentou-se na calçada em frente sua casa e ignorou o medo de qualquer tipo de violência com uma menina de sua idade aquela hora da noite. Eles conversaram pela primeira vez. A voz dele era suave e grossa, ele a fazia rir. Ela não tinha medo de ser quem era, afinal ele estava a quilômetros de distância. Conversaram sobre a demorar dos correios e o tempo de amizade. Havia se conhecido em uma comunidade de Biologia pela internet. Faziam planos de se aventurar pelo mundo, salvar animais e ele acreditava nos sonhos dela. O desejo do novo nunca morreu, mesmo sendo apunhalado pelos mais próximos. De alguma maneira ela acreditava nele. Conhecia seus limites e sonhava com isso tudo a cada noite que conseguia dormi. Quando ela disse que tinha que desligar ele pediu para ela colocar uma lanterna e meias a mais na mochila. Ela riu. E ele desligou. Aquela noite toda ela ficou acordada pensando em começar a escrever um texto. Ela não conseguiu. Começou milhares e não terminou nenhum.
O sol apareceu e ela estava com os olhos doendo. Havia passado a noite na rede da varanda da tia. E pela manhã notou que ela havia chegado da festa mais tarde do que pretendia. O telefone tocou. Era ele, pediu que abrisse a portão. Ela não entendeu nada. Ele apenas insistiu. De tênis e óculos escuros ele estava na frente dela. Com um coque no alto da cabeça e a cara amassada ela sorriu como se não acreditasse. Ele disse:- Está pronta? -Ela não entendeu como, mas sabia que não podia mais aguentar as noites de mente vazia e o coração desejando uma emoção, que não, a dúvida. Entrou dentro de casa, e não se importou de deixa-lo esperando no portão. Voltou com uma mochila nas costas, chapéu na cabeça e uma carta que dizia: " Volto amanha a noite. Te amo V. " Deixou a carta da porta da frente.Já haviam combinado em outras cartas que fantasiavam, que quando ele viesse para o Rio, iriam acampar e ela mostraria a Serra dos Órgãos a ele. Em silencio, só eles sabiam o que aconteceria naquele dia. Ela não iria engravidar e ele não iria bater o carro. Eles tinham planos de vida. Iriam começar a fazer o coração bater, criar histórias para contar , treinar para realizar seus sonhos. Eles só iriam se apaixonar.
Valentina.
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